Porque se escreve?
Por necessidade de gritar a existência.
Escreve-se para negar a morte.
Escreve-se para dizer aos outros que pensamos a vida e a
morte.
Escreve-se por coscuvilhice, relatando o que outros fazem,
como vivem,
como respiram, como comem, como matam e como amam.
Escreve-se para exibir a própria chaga,
«olha-me como eu sofro,
aliviem a minha dor com a vossa piedade».
Escreve-se por vaidade, por narcisismo insano, ansiando
pela glória.
Uma coisa é escrever, outra é tornar público
o que se escreve.
Mesmo que seja apenas para leitores únicos,
aqueles que se amam, aqueles que se odeiam
e os outros assim-assim.
Hoje há cada vez mais editoras que cobram dinheiro aos
autores, tirando partido do narcisismo
escriturário. Vendem-lhes impressão, tinta e a ilusão da
revelação do génio escondido.
Todos os escritores se julgam génios não reconhecidos
e insistem infinitamente na escrita para demonstrar a sua
genialidade.
E há cursos que ensinam a escrever,
para que um não-escritor se torne escritor
através de um kit de escrita.
Nas outras artes não será tanto assim.
Um artista plástico não privilegia a palavras,
constrói imagens onde a batota, se a houver, é mais
facilmente denunciada.
Um músico, idem, assim como um realizador de cinema.
Sem comentários:
Enviar um comentário